Vila Nova era uma cidadezinha pacata, de poucos habitantes, não havia vida noturna, alguns poucos bares sujos, um bordel afastado da cidade que era motivo de protesto por parte das mulheres de família pois seus maridos e namorados eram frequentadores assíduos do local e como toda cidade havia também algumas portinhas onde pastores ministravam seus cultos e uma igreja na praça central. Poucos jovens permaneciam na cidade após o termino dos estudos, saiam em busca de novos horizontes nas grandes metrópoles e os que ficavam constituíam família ali mesmo, geralmente casando com as caipirinhas semi-analfabetas que eram criadas para servir ao marido sempre submissas.

José era como um dos poucos jovens que optavam por permanecer na cidade. Muito tímido e pobre, contentava-se com aquela vidinha simples que levava desde criança. Sem grandes ambições, trabalhava na lavoura de sol a sol e nos fins de semana, quando recebia o pagamento ia se distrair no bordel, lá ele se soltava, tomava uns goles da vagabunda cachaça servida em copos mal lavados, recebia carinho das garotas que alí trabalhavam e assim se sentia mais homem, era a única maneira de deixar a timidez de lado.

Em um fim de tarde, José encontrava-se sentado á porta de um boteco sujo com seus companheiros , quando um pequeno caminhão carregado de caixas ,que ele deduziu que fosse uma mudança, para em frente a antiga casa da rua B, todos ficaram olhando para ver quem era o mais novo habitante daquele fim de mundo e ainda mais naquele velho sobrado que tinha fama de mal assombrado que a muitos anos não era habitado por ninguém, a não ser pelos ratos, baratas e morcegos. José ficou imaginando quem em sã consciência moraria num lugar como aquele, numa cidade onde nada de interessante acontecia. Logo atrás do caminhão, poucos minutos depois para um carro e dele salta uma jovem mulher de trinta e poucos anos, séria, uma mulher que de longe via-se que era de fino trato, muito elegante, olhos claros misteriosos, corpo esguio, boca carnuda tingida de um batom vermelho que lhe favorecia e contrastava com sua pele alva. A imagem daquela mulher fez a cidade parar, os homens boquiabertos admiravam sua beleza, já as mulheres cochichavam umas com as outras e a olhavam com ar de reprovação, mas José a olhou com outros olhos, foi amor a primeira vista.

Os dias se passavam e José não conseguia tirar a imagem daquela mulher da cabeça, foi amor a primeira vista, a paixão pela mulher misteriosa só aumentava, assim como a curiosidade dos habitantes pela moça que nem o nome sabiam, quanto mais de onde vinha e o que fazia ali.

A mulher misteriosa não saia de casa durante o dia, não falava com vizinhos e nem recebia visitas em sua casa. Ninguém a via fazendo compras, indo a farmácia ou varrendo a frente da casa, as janelas e portas do velho sobrado não eram abertas, sabia-se que ainda morava ali porque as vezes ao entardecer, via-se um vulto a espreita num canto da janela do alto da casa. Era muito estranho como alguém que chegara já algum tempo ainda não estivesse desprovida de suas necessidades básicas, isso só aumentavam os fuxicos de porta de botecos e beira de portões.
A clausura da bela mulher fazia com que José se indagasse por várias vezes quem era ela e o que viera fazer ali.

Certa noite, José estava sentado em frente a sua casa, era uma noite de lua cheia, já se passava das dez da noite e embora estivesse uma noite agradável, havia uma forte neblina que vinha do lago e que cobria toda a cidade, fazendo com que ficasse ainda mais vazia. Sozinho e pensativo, olhava para a casa da sua bela misteriosa quando percebe um vulto saindo do portão do velho sobrado, José resolve ir atras. O vulto da mulher seguia apressadamente pelas ruas vazias , onde só se ouvia o barulho do salto do sapato dela. Por diversas vezes ela olha para tras como que para ter certeza que ele ainda o seguia.

Chegando ao lago, a bela misteriosa para e José se aproxima e com receio toca-lhe o ombro, ela se vira e com uma voz doce dirige-se a ele:

_ Sabia que viria!

Ele muito tímido e com a voz tremula tenta desengasgar as palavras:

_Então queria que eu a seguisse?
_Sim, esperei por esta noite e sei que você também.
_ Posso ao menos saber seu nome?
_Meu nome é Sophy e o seu é José.

José encantado com tanta beleza e doçura, nem percebe a armadilha em que se meteu. Sophy olha dentro dos olhos do rapaz hipinotizado e o beija sedutoramente e ele se entrega. Os dois fazem amor ali mesmo, Sophy insaciável, com movimentos frenéticos faz com que o rapaz chegue a um orgasmo nunca antes sentido. Ela ainda por cima dele olha em seus olhos, se aproxima de seu ouvido e lhe sussurra:

_Te satisfiz?
José exausto, responde feliz com um sorriso jocozo nos lábios:
_Sim, muito, como nunca ninguém o fez.
_Mas eu ainda não, ainda tenho fome e sede.
Neste momento José percebe que o olhar doce de Sophy se transforma e em minutos ela sacia sua fome e sede, estraçalhando o corpo do pobre rapaz numa voracidade descomunal, não lhe dando a menor chance de defeza.

No dia seguinte a pacata cidade amanhece alvoroçada, um crime barbaro havia acontecido no lago, eram os restos do corpo de José estraçalhado, um crime que parecia ter sido cometido por um animal selvagem e feroz. Durante dias foram feitas investigações, mas nada conseguiram descobrir, nem pistas, nem testemunhas e muito menos suspeitos, sendo assim o caso fora arquivado e Sophy ficou livre para atacar mais um tímido rapaz na próxima lua cheia.


J.S.